Ao completar dois anos, o
maior crime ambiental da história do Brasil permanece impune. A ação criminal,
que responsabilizou a mineradora Samarco e seus ex-diretores pela avalanche de
lama com rejeitos de minérios, causada pelo rompimento da barragem de Fundão em
Mariana (MG), está suspensa pela Justiça Federal. A contestação da defesa sobre
as provas utilizadas na denúncia pode vir a anular todo o processo, como se
faltassem evidências e as provas não estivessem a céu aberto materializadas
em três dimensões, na destruição e contaminação provocadas pela tragédia,
sobretudo na irreparável perda de preciosas vidas.
A decisão da mineradora de
seguir brigando na Justiça só amplia o sofrimento das famílias atingidas que
lutam pela reparação da sua dignidade, e impede outras medidas emergenciais de
recuperação ambiental. A mineradora recorreu de todas as multas aplicadas pelo
IBAMA, assim como as aplicadas pela Secretaria de Meio Ambiente de Minas
Gerais. Apenas uma multa começou a ser paga, no valor de R$ 127 milhões,
parcelada em 60 vezes. São mais de 50 mil ações contra a Samarco correndo em
comarcas da Justiça estadual.
Mergulhadas em tristeza e
sofrimento, famílias atingidas ainda aguardam suas indenizações; lutam para
vencer os graves problemas de saúde mental como depressão e angústia; tentam se
adaptar às casas alugadas onde foram provisoriamente reassentadas, distantes de
parentes e vizinhos; e na expectativa de reaver seus antigos modos de vida,
aguardam a promessa da construção dos novos vilarejos. As medidas de
recuperação do leito do Rio Doce, da fauna e flora, também seguem tímidas se
comparadas com a amplitude e profundidade dos danos e perdas causados pela
contaminação, embora algumas ações de revegetação tenham sido realizadas para
recompor as margens assoreadas dos rios.
É importante relembrar que
o que aconteceu em Mariana não foi, de forma nenhuma, acidente, mas, pela
negligência e descaso, um crime. O direito de restauração de um ambiente
saudável com justiça social e ambiental precisa ser cumprido com urgência pela
empresa responsável por tamanha tragédia criminosa. Crimes dessa magnitude
precisam ser transformados em crimes hediondos. Já se passaram dois anos. A
impunidade não pode servir de incentivo para que essa tragédia se perpetue ou
para que outros crimes dessa natureza venham a acontecer no Brasil.
Fonte: redesustentabilidade.org.br