"Estão
trocando os povos indígenas, a Amazônia, os biomas brasileiros por votos no
Congresso", diz Marina
"Queremos
a revogação do decreto. Seja por sua vontade ou aprovando o decreto legislativo
no Senado", diz Randolfe
A porta-voz nacional da
REDE, Marina Silva, participou na tarde de ontem do Ato Mundial pela Amazônia,
em Macapá. Acompanhada pelo senador Randolfe Rodrigues e lideranças regionais
da REDE, Marina e Randolfe fizeram duras críticas à política ambiental do
governo Temer e aos ataques a que as áreas de conservação ambiental têm sofrido
nos últimos anos e pediram pela revogação do decreto de extinção da Renca
(Reserva Nacional do Cobre e Associados) – uma reserva de 4,7 milhões de
hectares.
“Estão trocando os povos
indígenas, a Amazônia, os biomas brasileiros por votos no Congresso. Não pensem
que esse decreto está separado da negociata que foi feita em troca de emendas,
de cargos, no ‘toma-lá-dá-cá’ para salvar a pele do Temer na votação que iria
fazer levá-lo a ser julgado no Supremo Tribunal Federal. Por trás de tudo
aquilo, estava essa conta que agora apareceu”, declarou Marina. “O Temer vem e numa
canetada, afeta 4,7 milhões de hectares de área protegida. Nós estamos aqui
para dizer uma coisa: basta. Chega”, afirmou.
Marina também relembrou o
árduo caminho percorrido durante sua atuação como Ministra do Meio Ambiente,
que levou a uma redução, durante 10 anos, dos índices de desmatamento da
região. “Desde 2015, o desmatamento voltou a crescer 60% - por conta das
mudanças no código florestal, por causa dessas medidas provisórias que
legalizaram terras ilegais, invasão em terras públicas e por decretos como esse
que o senhor Temer que, não tem credibilidade, não tem legitimidade, não tem
popularidade, assinou em troca de se livrar da denúncia do Ministério Público”,
disse a ex-ministra, que também destacou os retrocessos ambientais do governo
Temer.
“No governo Temer, ele
reduziu a floresta Nacional do Jamanxim, depois como se não bastasse veio com
uma medida provisória para mudar a regularização fundiária, que antes só
permitia que se regularizasse terras até 1500 hectares – e passou para 2500
hectares. Antes, só podia regularizar terras que tivessem sido ocupadas até
2008. Agora, passou até 2011, para facilitar a vida dos grileiros. Nisso, foram
mais 41 milhões de hectares de áreas roubadas da Amazônia. Agora, é o tiro de
misericórdia”, disse, referindo-se ao decreto que extinguiu a Renca.
A porta voz nacional da
REDE também fez um apelo para que a sociedade continue atenta, mesmo após a
suspensão do decreto. “Vamos manter a vigília. Se ele suspendeu por 120 dias
graças à pressão da sociedade brasileira, vamos dizer que não adianta querer
nos iludir. Suspender não é revogar. E daqui a 120 dias volta tudo de novo.
Então esse ato é para dizer que nós estaremos em vigília permanente por 120
para que o decreto seja revogado”, declarou.
"Revogação
já", pede Randolfe
Em um discurso inflamando,
o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), criticou as medidas do governo Temer e
falou sobre a importância da mobilização popular para impedir o avanço dos
retrocessos ambientais – e da exploração da Amazônia. “A primeira reação a este
ato medonho tem que vir do povo daqui, porque é povo daqui que sabe as
consequências da mineração. Sem floresta não há mais vida. Queremos a revogação
do decreto. Seja por sua vontade ou aprovando o decreto legislativo no Senado.
Esse recado não é só meu. É dos povos da floresta que sabem das maldades e
perversidades que o senhor Temer e essa quadrilha chamada PMDB praticam no
Amapá e em todo o país”, afirmou.
Entenda
o caso
O Governo Federal decretou
no dia 23 de agosto a extinção da Renca, liberando a área para exploração
mineral. Após uma série de críticas e de ações na Justiça sobre o futuro da
antiga reserva na Amazônia, o presidente Michel Temer editou na segunda-feira
(28) um novo decreto, mais detalhado, porém com poucas mudanças. Ele revogou a
primeira norma, porém manteve a decisão de extinguir a Renca e liberar a
exploração mineral em parte da área. A medida foi suspensa pela Justiça Federal
na quarta-feira (30). Na sequência, o Ministério do Meio Ambiente também
decidiu suspender o decreto pelo período de 120 dias, sem, no entento,
alterá-lo.
Guerreiros
Waijãpi
Vinte e cinco guerreiros
da tribo Waijãpi apresentaram danças típicas de guerra durante o ato. O
professor Kaitona Waijãpi, que mora na aldeia que fica no município de Pedra Branca
do Amapari, falou que os índios quiseram mostrar a insatisfação quanto a
liberação de exploração mineral no Amapá. “Nossa luta é grande. Somos
defensores da natureza, por isso que os guerreiros vieram aqui. Precisamos nos
unir para ter força e defender a Amazônia para futuras gerações. Querem
diminuir as terras indígenas e nós não aceitamos, porque nossa sobrevivência
vem da natureza. E isso não vamos deixar, vamos até o fim”, falou Kaitona
Waijãpi.
Informações: https://redesustentabilidade.org.br