Por,
Ozéas Jordão (*)
A decisão tomada pelo governador do estado da Paraíba
de determinar o fim do racionamento do uso da água do Açude de Boqueirão
deflagrou um intenso debate de autoridades de membros de órgãos públicos, dos
setores privados e de cidadãos/ãs sobre o que fazer. As posições se concentram
em torno de indicações de dois caminhos: suspensão total e suspensão
progressiva?
A
minha fala neste artigo vai ao encontro da posição dos que entendem que a
suspensão progressiva é a mais coerente e por isto a mais indicada a ser
seguida. Hoje temos quatro dias de relacionamento.
A
proposta de suspensão progressiva numa escala de redução de um dia a cada 30
dias proximamente e iniciando na próxima sexta-feira, data que o governador
determinou para iniciar a suspensão total e, dai em diante, a cada trinta dias
a até chegar em dezembro quando, após novas avalições técnicas e consultada as
representações das cidades abastecidas pelo Sistema Boqueirão se decidiria por
suspensão total ou não.
A
seguir apresento os fundamentos sobre os quais entendo ser coerente a proposta
de continuidade do racionamento com a implantação de uma programação de redução
considerando a escala sugerida acima.
1.
Baixo índice do volume de recarga do açude de Boqueirão, cerca de 8,5%,
atualmente. Não podemos desprazer o fato que estamos estágio inicial da entrada
em funcionamento do sistema de recarga via Canal da Integração com o rio São
Francisco.
2.
Continuidade do fenômeno da Seca. A incerteza sobre a dinâmica climatológica do
período de estiagem normal (estação seca) para a área da bacia do rio Paraíba,
a contar do presente mês de agosto que pode ser por um período de cinco até
oito meses. Neste período, o consumo de água tende a aumentar por que outras
fontes menores que hoje auxiliam a demanda de água, como cisternas, barreiros,
poços, cacimbas, pequenos riachos que auxiliam o atendimento da demanda por
água vão secar. Além disto, não se pode deixar de considerar que a perda por
evaporação e infiltração também aumentará no período de seca considerado, já
que a única fonte de recarga do açude neste período é via águas do São
Francisco, Eixo Leste da integração.
3.
Instabilidade das informações técnicas de órgãos gestores e especialistas na
temática. Esta situção ficou muito evidente na última Audiência Pública
realizada pela Câmara de Vereadores de Campina Grande que contou com a presença
de algumas representações de câmaras de vereadores e de prefeitos de cidades
que são abastecidas pelo açude. Estive presente durante todo tempo da Audiência
e ficou muito claro, em todas as falas dos presentes, a percepção do sentimento
de cautela que tem as populações quanto a forma de por em prática o processo de
suspensão do racionamento. Esta foi também a posição que defendi quando falei
sobre o tema na citada Audiência por entender que está coerente com o
sentimento coletivo da maioria da população.
4.
Necessidade de realização de uma intensa campanha educativa, casa a casa, instituição
por instituição (pública e privada), antes de colocar em prática a suspensão
total do racionamento.
5.
Controle e fiscalização do uso da água pelos órgãos gestores e por conselho
popular. Agência Nacional de Águas (ANA) e a Agência Estadual de Água (Aesa)
ainda não estão devidamente preparadas para exercerem o controle e fiscalização
do uso da água do Sistema Integração, especialmente o trecho em território
paraibano. Este fato saltou aos olhos de todos que estavam presentes na última
Audiência Pública realizada pela Câmara de Vereadores de Campina Grande.
Portanto, considerados os argumentos apresentados, coloco-me a favor da redução
progressiva do racionamento dágua nas cidades abastecidas pelo açude de
Boqueirão, o Epitácio Pessoa, a partir da próxima sexta-feira, nos termos acima
propostos.
(*)
Prof. Ozéas Jordão (ozeasjordao@yahoo.com.br) Departamento de Geografia/ Centro
de Educação/ UEPB, Câmpus I. Aulas que ministra correlacionadas ao tema:
Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Geografia da Indústria,
Comércio e Serviços.